Postagens

Mostrando postagens de julho, 2010

O Piloto

Autor: Ivo Simões   O rio está cheio. O barco ancorado ao cais. Amarrado por cordas e arretinidas. Esperando a hora da partida. Seu porão é grande, mas logo estará cheio de castanhas. Que de hectolitro em hectolitro são medidos sobre o olhar atento do marca marcador. Tudo pronto, porcos d’água a bordo, uns soltam o barco outros recolhem as pranchas. O barco carregado parece deslizar suavemente. Sob as ordens de seu principal condutor: o piloto. A viagem é longa e o Rio Tocantins majestoso e traiçoeiro esconde: Pedras, banco de areia e cachoeiras. O piloto não pode errar. Capitariquara a vista, começa a hora de aflição. O piloto ordena: marinheiros e passageiros procurem seus lugares. Porco d’água baixe e pregue as sanefas, mestre de proa amarre os tambores no molinete. O piloto faz soar uma campainha, que é seu principal instrumento de comunicação entre ele e o maquinista. O maquinista que por sua vez responde com seguidos toques de re

Águas de passagem

Autor: Ademir Braz Retinem nos ouvidos velhas pás e gritos: há odor de diesel nos óleos do ar. Cúmplice do vento ando junto às pedras zanza no rio-tempo meu menino olhar. No azul do porto sobe e desce gente carregando frutos úmidos de sol: sobre ombros curvos corre mel do cesto escorre sal da pele nos degraus do cais.   Farto de castanha cambaleia o barco acima do banzeiro que o vento atiça; geme a quilha tesa a corda retinida range como range a carne sob os cestos nos degraus do cais. Retinem nos ouvidos tantas pás e gritos e já não há no ar os mastros em delírio... Só, desaba a rua agora sobre as águas que deságuam cio nos degraus do cais.

Marabá

Gonçalves Dias Eu vivo sozinha, ninguém me procura! Acaso feitura Não sou de Tupá! Se algum dentre os homens de mim não se esconde:  "Tu és", me responde, "Tu és Marabá!" - Meus olhos são garços, são cor das safiras,  - Têm luz das estrelas, têm meigo brilhar;  - Imitam as nuvens de um céu anilado, - As cores imitam das vagas do mar! Se algum dos guerreiros não foge a meus passos: "Teus olhos são garços", Responde anojado, "mas és Marabá: "Quero antes uns olhos bem pretos, luzentes, "Uns olhos fulgentes, "Bem pretos, retintos, não cor d'anajá!" - É alvo meu rosto da alvura dos lírios, - Da cor das areias batidas do mar; - As aves mais brancas, as conchas mais puras  - Não têm mais alvura, não têm mais brilhar. Se ainda me escuta meus agros delírios: - "És alva de lírios", Sorrindo responde, "mas és Marabá: "Quero antes um rosto de jambo corado