Quando a vida imita a arte.
Abaixo um artigo de Marcelo Bulhões, de Castanhal-PA, sobre Belo Monte:
Avatar e Belo Monte: Uma reflexão da saga do Povo do Céu.
Muita gente que eu conheço ficou indignada com a manifestação do diretor de Avatar, James Cameron, contra a construção da usina hidrelétrica de Belo Monte. Eu até entendo as razões da indignação. Mas, Cameron fez o que muitos daqueles que são contra a usina deveriam fazer e são indiferentes.
Assistindo ao filme dos seres azuis, dirigido por Cameron, foi impossível não fazer uma reflexão da ficção com a história que vivenciam hoje os índios da região do projeto da barragem.
No filme um povo que domina a tecnologia (chamado de Povo do Céu) quer explorar a natureza para extrair um mineral com altíssimo valor de mercado. A jazidaestá bem em baixo de uma frondosa árvore que serve de morada para o povo da floresta. Impossível não lembrar dos índios Caiapós e até mesmo da Serra de Carajás nesse momento.
Uma frase me chamou atenção num dado momento do filme onde o chefe da operação diz que, se for necessário se tornarão inimigos dos Navi para que, assim, possam enfrentá-los, destruí-los e tomarem o que desejam. Isto nos lembra alguma nação?
Quando olhamos pela a ética do mercado, o que é uma árvore para impedir a exploração dos recursos minerais? Para o povo da ficção a árvore era parte da vida, da história, da sobrevivência.
No mundo real o que aconteceu com os Incas? Com os Maias? Como desapareceram?
A construção da barragem no Xingú pode representar desenvolvimento para o Povo do Céu. Para os índios da região terras sagradas poderão submergir. Desaparecer. Pra mim e pra você isso até pode não representar grande coisa. Para eles, parte da vida, da história, da própria existência.
Se continuarmos pensando que este dilema não é diretamente meu, nem seu, a cada dia surgirá um novo Cameron para dar sua mensagem.
Em muitos casos a vida imita a arte. Na maioria das vezes, a arte imita a vida.
Marcelo Bulhões
Castanhal-PA