Entrevista com Sérgio Couto
Entrevista publicada em o “Diário do Pará”, edição de 10.07.2011, sobre o episódio da venda de um imóvel da OAB, em Altamira-PA, onde foram encontradas irregularidades, inclusive a falsificação da assinatura do vice-presidente da seção do Pará.
Sérgio Couto é advogado militante em Belém-PA e foi presidente da OAB-PA.
P: O presidente Jarbas Vasconcelos agiu corretamente no episódio?
R: Ninguém age corretamente em caso de alguma prática criminal. Isso tudo é uma vergonha muito grande. Resta saber se ele tem participação nisso. Vou torcer para que não tenha.
P: A imagem da OAB sai manchada depois do que ocorreu?
R: Manchada? Isso é pouco. É muito pouco. A meu modo de sentir, a imagem, a credibilidade e a respeitabilidade da instituição, que tanto nos custou para construir, está sendo destruída pelas tropelias dessa diretoria, contra a qual lutei com todas as minhas forças, mas fui derrotado, embora não tenha sido vencido. Eu bem sabia que isso tudo iria acontecer pelo comportamento deles em episódios anteriores. Mas prevaleceu o egoísmo, a vaidade, a irresponsabilidade dos que deram apoio aos que lá estão.
P: Fala-se em pressionar o doutor Jarbas Vasconcelos para que ele renuncie, poupando a entidade de um desgaste ainda maior com a permanência dele no cargo. O senhor concorda com isso?
R: Concordo. Mas é difícil. Acho que em toda a história da OAB, de todas as seccionais do país, jamais aconteceu o que está acontecendo no Pará. Está todo mundo boquiaberto. Estupefato. Assustado, mesmo.
P: A Corregedoria das comarcas da região metropolitana de Belém decidiu abrir sindicância para apurar a fraude na assinatura do doutor Evaldo Pinto. O senhor defende esse tipo de procedimento?
R: Claro. Tudo o que for feito no sentido de apurar qualquer irregularidade cometida, seja lá por quem quer que seja, eu não só defendo como estimulo.
P: O Ministério Público não deveria entrar no caso?
R: Se houve crime, ainda que em tese, o Ministério Público tem o dever de agir. Essa é sua missão institucional, que essa diretoria da OAB quis usurpar, pedindo prisão preventiva e indisponibilidade de bens, fora do devido processo legal, sem contraditório e sem direito a ampla defesa no caso repugnante da Assembleia Legislativa. Uma vergonha vergonhosa, como se diz no vulgo.
P: A gestão do doutor Jarbas Vasconcelos tem sido à altura das suas expectativas, mesmo depois do episódio da venda mal explicada do terreno?
R: Infelizmente, não. Ele (Jarbas Vasconcelos) tem envolvido a instituição em episódios de seu interesse pessoal e político que só têm desgastado a imagem pública e a respeitabilidade da mesma, pelas quais tanto lutamos. Administrativamente, tem sido medíocre. Apagado. Institucionalmente, tem sido midiático. Procura os holofotes. Parece que tem necessidade de status social e intelectual. Não hesita em se servir da instituição e do conceito que ela tem. Não tem servido à instituição. Tem se servido dela. Isso é horrível! É deplorável! E toda vez que se critica, ou se discorda dele ou de algum ato da diretoria ou do Conselho, já tem uma manifestação ameaçadora pré-formatada: 'vou processar!'. 'Isso é insatisfação política'. Ora... ora... ora...
P: Como o senhor está vendo esse imbróglio que culminou com a descoberta da falsificação da assinatura do vice da OAB. Evaldo Pinto?
R: Eu não estava sabendo disso. Soube do caso deplorável da venda do terreno em Altamira. Isso, para mim que estou longe, é uma surpresa. Se houve alguma falsificação, é caso de polícia! É crime.
P: O senhor pode fazer as considerações que entender pertinentes para finalizar essa entrevista...
R: Estou fora do país e só tomei conhecimento dos acontecimentos pelo meio eletrônico. Quando se desfez o negócio de Altamira, assim me manifestei como sendo a síntese do meu pensamento: 'Parece que prevaleceu o bom senso com a desistência da irregular compra do terreno de Altamira. Não há interesse político subjacente nenhum. Isso é desculpa esfarrapada de quem foi flagrado no deslize. No erro. Na falta de bom senso. Eu me revoltei e iria ingressar em juízo porque o ato foi moral e eticamente condenável. Deplorável, mesmo. A lei não esgota a ética e a moral, todos sabemos. E a OAB não precisa vender nenhum patrimônio. Principalmente em uma área tão futurosa. Então, não me venha com essa ladainha de vítima, de injustiçado. Se quiserem, ingressem em juízo contra mim. Mas que não vou permitir o uso indevido e interesseiro da entidade, isso não vou. De qualquer maneira, parabenizo a prevalência do bom senso, mas nossa imagem institucional, mais uma vez, sai duramente arranhada.