Entrevista com o senador Pedro Simon

Entrevista concedida ao jornalista Flávio Ilha/Agência O Globo

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Por que o senhor não será candidato este ano?

Faço 85 anos exatamente no dia em que encerro meu quarto mandato, em 31 de janeiro de 2015. São 65 anos de vida pública e 32 de Senado; então achei que era a hora de me retirar. Mas não foi uma decisão só minha. O PMDB também optou por fazer uma aliança com o PSB e a vaga (ao Senado) coube a eles (ao deputado federal Beto Albuquerque). Mas eu sempre disse que, se o partido tivesse alguma dificuldade, algum problema, eu concorreria. Foi uma decisão natural.

A aliança com os socialistas, antigos aliados do PT no Estado, não lhe surpreendeu?

Sim, positivamente. Foi uma aliança boa, feita entre pessoas com afinidade de ideias e propósitos. Com 35 partidos, o que temos visto no Brasil são alianças feitas sem motivo além dos minutos que cada legenda tem na televisão. O Supremo até tentou determinar que as alianças fossem nacionais, mas os partidos não aceitaram. Se fossem nacionais, teríamos seriedade ética e social na nossa política. Todos os países sérios têm isso, se dividem em blocos bem nítidos. Duvido que exista algum país com o número de partidos que há aqui. E, com essa política do governo, do “é dando que se recebe”, do “toma lá dá cá”, lá pelas tantas um grupo de quatro ou cinco deputados se reúne e funda uma legenda nova para tirar algum proveito.

Essa fragmentação pode ameaçar a democracia brasileira?

Não usaria o termo ameaçar, mas acho que complica e dificulta. Pior ainda, ridiculariza. Esse é o primeiro princípio da reforma política que eu priorizaria: o número de partidos.

O foco do governo na reforma política é o financiamento de campanha. Não é mais importante?

As campanhas brasileiras são, de fato, um escândalo; o dinheiro rola das maneiras mais criativas. O PT sempre foi contra o exagero de dinheiro nas campanhas, mas hoje se mostra a favor. O que não é de estranhar, porque os números mostram que quem dá dinheiro para campanha é empreiteira e banco, setores tradicionalmente mais ligados ao governo. E, nas últimas eleições, 70%, 80% deste dinheiro de doações foram para o PT. Eu defendo o financiamento público, mas com cuidado. Hoje, por exemplo, um candidato que não tem mandato enfrenta os atuais parlamentares, deputado ou senador, em enorme desvantagem. O poderio da máquina é muito grande, tem as emendas parlamentares, tem os funcionários do gabinete, verba disso, verba daquilo. Então, quem decide as eleições já é esse dinheiro público, que vem de tudo que é jeito. Quando falo em limitação de partidos não quero dizer que tenha que ter uma lei proibindo de criar, mas determinando exigências para que funcione. A principal delas é voto, claro. E depois a fidelidade partidária.

Mas a fidelidade partidária já existe…

É verdade, mas nunca foi devidamente regulamentada pelo Congresso. É um remendo. No vazio da lei depois da Constituinte, o Supremo até determinou a perda de mandato para quem trocar de partido (em 2008), o que obrigou o Congresso a correr atrás e fazer uma lei regulamentando o tema. Mas, quando o Supremo baixou essa norma, atendendo a um pedido do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o Congresso fez uma emenda dando seis meses, depois da eleição, para que parlamentares possam trocar de partido. Aí é pra matar, não é?

Depois de quatro mandatos consecutivos no Senado, o que o senhor pensa do Congresso?

Eu tenho dito ao povo, da tribuna do Senado, que não espere nada do Congresso. As iniciativas têm que vir do povo. Veja bem: a maior vitória em termos de reforma política desde a democratização de 1985, ao meu ver, foi a Lei da Ficha Limpa (em 2010), que se deveu a uma iniciativa popular. O Congresso não queria aprovar; isso era evidente. Um dia antes da votação no Senado, mais de 20 parlamentares foram à tribuna falar contra a proposta. Diziam que era um absurdo, que não tinha cabimento, essas coisas. No outro dia, um mar de gente foi para a frente do Congresso e colocou cruzes no gramado dizendo que iriam encher o Brasil de cartazes com os nomes de quem votasse contra a proposta. A lei foi aprovada por unanimidade no dia seguinte. A maior conquista em quase 30 anos de democracia não foi do Congresso, mas uma proposta de emenda popular.

Dilma faz um bom governo?

Quando iniciou seu mandato (em 2010), a presidente Dilma foi rígida. Nem Lula nem Fernando Henrique, por exemplo, demitiram ministros por acusações ou denúncias de corrupção. Ela demitiu seis. Saía a notícia, demitia. Até do PT. Mas, quando começou a ditar essa linha, começaram as cobranças e as pressões. E como foi se isolando cada vez mais e a queda de popularidade começava a se acentuar, com inflação e baixo crescimento, a Dilma acabou se entregando. Começou a se identificar mais com os presidentes da Câmara e do Senado, com o Renan (Calheiros), com o (José) Sarney, e a cuidar mais do projeto de reeleição. Hoje está igual ao fim do segundo mandato do Lula, o estilo é esse. Passa quatro dias da semana viajando. Só aqui em Porto Alegre ela já anunciou as obras da segunda ponte do Guaíba, que nunca começam, três vezes.

O que o senhor leva como bagagem desses 65 anos de vida pública?

Se pudesse sintetizar minha vida na política, diria que sobrevivi. Cheguei no fim da onda inteiro. É suficiente.

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