Brasil: um país sem líderes e sem oposição

Artigo escrito pelo advogado Ismael Moraes

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Ao mesmo tempo em que o país sente orgulho de ver a atuação corajosa e independente do juiz federal Sérgio Moro e da Polícia e do Ministério Públicos federais, abate-nos a desesperança quando abrem a boca os “líderes” da oposição: ou jorra um espetáculo de mediocridade ou o suposto líder é alguém com folha corrida que passeia por páginas assustadoras do Código Penal.

Sempre que a sociedade brasileira pensa em quem possa resgatar o país, as pesquisas indicam o ex-ministro do STF Joaquim Barbosa e atualmente também aquele juiz federal.

Quando a imprensa procura ouvir a opinião dos partidos da “oposição”, lá está o senador Aécio Neves com aquele olhar vidrado muito parecido com o do inesquecível Coalhada, personagem criado pelo gênio de Chico Anísio caricaturando aqueles craques do futebol transfigurados em anti-heróis por terem sucumbido a algum vício.

A oposição que temos serviu como tropa de choque na defesa de Eduardo Cunha, chegando à degradação mais profunda ao protagonizar um processo de impeachment presidido por quem não tinha as mínimas condições éticas da fazê-lo, perdendo o apoio da sociedade. Livre de pressões, o STF interrompeu o curso do processo, mesmo com as sérias evidências de impostura da presidente Dilma Rousseff.

Estamos em tal desespero pela falta de líderes, que procuramos por heróis; e ao pensarmos neles, recorremos a juízes, procuradores e policiais que estão fazendo nada mais que suas obrigações constitucionais, que é aplicar a lei com honestidade.

“Miserável país aquele que não tem heróis. Miserável país aquele que precisa de heróis”. Nossa dignidade não está à altura das advertências morais do poeta alemão, até porque somos um povo que se alimenta de mitos. Nós sempre gostamos de criar heróis.

A verdade, a dura realidade é que nos falta e o que não temos são líderes. Os que tínhamos, ou morreram, ou envelheceram, ou caíram no limbo após descobrirem-se desvios ou passaram ao outro lado (como Lula).

Temos juízes, mas eles não fazem parte de nenhuma estrutura orgânica livre para aglutinar a sociedade, como são os partidos políticos, as associações e os sindicatos. A OAB teve como último líder de questões cívicas nacionais o paraense Ophir Cavalcante, há três anos fora da presidência da entidade, sucedido por alguém que usou o mandato para mendigar nomeação em algum tribunal superior, aviltando a histórica participação dos advogados nos momentos de crise no país.

Nas primeiras entrevistas em que os chefes dos partidos de oposição falaram à imprensa, depois de revelado o conteúdo da delação do senador Delcídio do Amaral, o que se ouviu foi além da mediocridade, mostra mesmo a quintessência de pusilanimidade: os senadores e deputados do PSDB e demais siglas afirmaram que a presidente Dilma deveria renunciar (!?). Ou seja, a “oposição” quer que o próprio governo ofereça uma solução à guisa do deus ex machina do antigo teatro greco-romano, resolvendo de modo fácil o impasse nacional, com uma rendição surpreendente.

Sem oposição digna de assim ser rotulada, sem líderes nacionais e com heróis que servem apenas para enriquecer a nossa formidável galeria de figuras ilustres, o povo ainda tem contra si um inimigo íntimo criado pela ilusão, vivida dia e noite, de que vamos mudar o país com mensagens de whatsapp, de Facebook e de twiter, esperando que outros vão à rua.

“Não espere por líderes. Faça você mesmo, pessoa por pessoa”, foi a lição deixada por Madre Teresa.

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